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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Lidando com o orçamento e relações de poder: quando a família vai pagar

A maior dificuldade dos noivos ao organizar uma festa de casamento é o orçamento. Quando os noivos decidem pagar pela própria festa, a dificuldade se concentra em levantar o dinheiro e organizar as finanças. Quando é a família que se oferece para pagar, a dificuldade fica em estabelecer relações de poder na organização. Ou, usando as palavras exatas, definir quem manda no casamento. 

O meu caso é perfeito para servir de exemplo. Logo de cara meus pais se prontificaram a me oferecer uma festa de casamento. Eles estipularam um valor máximo que poderiam alcançar, colocando também as expectativas que tinham para o evento: um espaço confortável para os convidados e um serviço de qualidade, priorizando a boa comida. Feitas essas considerações gerais, eles foram generosos o suficiente para deixar todas as escolhas por minha conta e do noivo, dando quase nenhuma opinião não-solicitada. Para meus pais, a festa de casamento é dos noivos e deve, acima de tudo, ser do nosso agrado.

Os pais do noivo tem outro raciocínio. Eles também se prontificaram a pagar, querendo dividir a festa igualmente. Para eles, contudo, a festa de casamento é uma festa dos pais para os noivos, o que significa que, em última instância, os "donos da festa" são os pais. Como meus sogros são pessoas muito ocupadas, quase não tem tempo de ajudar com as questões práticas do casamento - apesar de quererem muito -  e como o noivo mora fora, a organização acabou caindo toda pra mim. Eu combino tudo com o noivo, assim o casamento fica do nosso jeito. Como os pais dele são tranquilos, acho que já entenderam que a idéia de que os pais são os donos da festa não cola com a gente. É claro que nós escutamos as opiniões - sejam elas solicitadas ou não - mas a decisão de atendê-las é nossa. 

É preciso diálogo

Alguns noivos, contudo, não tem a sorte de terem pais tão tranquilos quanto os nossos. Muitos noivos, inclusive, preferem se desdobrar em 20 para pagar a própria festa, podendo assim fazer tudo realmente do seu jeito. Escapar da relação "dinheiro é poder" é difícil em qualquer situação, e na organização de uma festa de casamento não é diferente. Muitos noivos quando não estão pagando não se sentem à vontade de fazer valer sua opinião. E ao mesmo tempo, muitos pais quando estão pagando se sentem os "donos da festa", querendo até mesmo impor vontades e opiniões. 

A tensão entre as expectativas reprimidas dos noivos e as decisões impostas pelos pais pode se tornar insustentável. Para que isso não aconteça, é preciso muita conversa logo no início dos preparativos. Tanto se os pais se oferecerem para pagar de livre e espontânea vontade, quanto se os noivos pedirem a contribuição, é preciso ver quais são as expectativas de cada um em relação ao evento. Não adianta os noivos quererem um casamento pequeno, estilo mini-wedding, se os pais querem convidar até os primos de 5º grau. Por outro lado, os noivos não podem querer um festão para 300 convidados se os pais só podem bancar 150. Estabelecer um número de convidados que agrade a todos - bem como um teto de gastos - é a primeira coisa a ser feita. E ambos os lados tem que saber ceder, é claro. 

Mas afinal, quem manda "mesmo"?

Na minha opinião, se os pais optaram por presentear os noivos com os meios para fazer uma festa, o presente está dado. Quando damos um presente a alguém, não dizemos a essa pessoa o que fazer com ele. Não é da sua conta se a pessoa vai levar o presente até a loja e trocar por outra coisa. O mesmo funciona com dinheiro, se é dado de presente, é dado. Não se mete o nariz se não for chamado. Isso vale em dobro para quem paga mas não ajuda. Não adianta nada se oferecer para pagar o casamento se você não tem nem cinco minutos do seu dia para ligar para aquele buffet que você sugeriu e quer porque quer que os noivos experimentem. É muito fácil pagar, não ajudar a pesquisar, a marcar horário, a nada, e depois dizer "não era bem isso que eu queria, seria melhor aquela outra opção".

É claro que um casamento mexe com emoções muito profundas e é claro que aos pais sempre se deve respeito. Mas os pais também devem respeitar os noivos. Determinar coisas só porque "estão pagando" ou fazer chantagem emocional é uma tremenda falta de respeito. Noivos, se perceberem que é esse o caso, corram. Ceder um pouco é saudável, mas se perceber que estão sendo deixados de lado em favor da opinião alheia (mesmo que seja dos pais), deem um basta na situação! Sem brigar, apenas explicando o lado de vocês: que é o casamento de vocês, oportunidade única na vida, e que vocês tem grandes desejos e expectativas para esse dia.

Dicas para evitar conflitos

Se seus pais ou os pais do noivo (ou ambos) se ofereceram para pagar a festa, o mais importante é deixar claro para todos que a palavra final é dos noivos, que os dois estão e estarão em perfeita sintonia entre si para decidir o que lhes deixará mais felizes no grande dia. O segundo passo é estabelecer o comprometimento de que os noivos nunca fecharão um contrato sem o conhecimento dos pais. Apresentar diversos orçamentos a quem estará pagando e perguntar se a despesa cabe no bolso é uma atitude mínima de respeito. Afinal, se os noivos não querem se endividar para pagar festa de casamento, os pais muito menos, não é?

Delegue tarefas e faça as pessoas se sentirem incluídas. Escolha um item que você não faz questão de decidir pessoalmente e peça para os pais resolverem por você. Eles irão sentir que suas opiniões são valorizadas e que estão ajudando. No meu caso, pedi para meu pai e meu sogro irem nas degustações dos buffets e escolherem o favorito. Os dois tem o paladar muito mais exigente e entendem muito mais de comida do que eu. Então por que não? Deu super certo. Pena que minhas outras tentativas de incluir os sogros não deram certo porque eles simplesmente não tem tempo, mas enfim...

Se mostrem dispostos a ouvir opiniões, mas saibam dizer "não" quando não concordarem com alguma coisa. Tranquilamente, sem brigar.

A parte mais difícil pode ser em estabelecer o tamanho da festa. Se você quer uma festa intimista com apenas 70 pessoas, mas seus pais querem convidar até a tia Gorete do Cabrobó, desapegue e esqueça. Nessa hora, eles "estão pagando" mesmo. O que não pode acontecer é os convidados dos noivos serem cortados em favor dos convidados dos pais. A festa ainda é dos noivos. Nessa hora, tente explicar que a festa de casamento é um celebração do amor de vocês e que vocês não querem estar cercados de parentes distantes que nunca viram na vida, ou colegas de trabalho deles que só entraram na empresa há dois meses. Mantendo os convidados dos noivos como maioria, o resto está tudo certo. Ah, e um certo respeito pelo tamanho de cerimônia desejado também é legal, ok senhores pais? Nada de impor uma festa para 300 pessoas se os filhos só querem 70... Que tal entrar em um acordo com 150?

Por fim, tratar de dinheiro não costuma ser fácil, mas se todas as partes envolvidas se tratarem como os adultos que provavelmente são (ninguém aí está querendo casar antes dos 18, né?), tudo dá certo.

E vocês, como estão resolvendo os assuntos financeiros da festa de casamento?

2 comentários:

  1. É realmente um tema complicadissimo. Eu e noivo, vamos comprar um apê e mobiliá-lo, além de uma viagem boa. Ou seja, grana pra festa nao rola mesmo! E o pai do noivo, QUER festa. Mas não tem grana pra bancar. chegou até a dizer que sem festa, ele nao chama ninguem da familia dele (um absurdo). Mas meu pai não me disse ainda com certeza se me dá a festa, e quanto poderá pagar. Então eu coloquei na minha cabeça, que nao teremos festa. Assim, se tivermos, será lucro.

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    1. Realmente, o pai do noivo querer festa mas não querer contribuir não dá. Na minha opinião, quem não contribui não dá palpite (a não ser que solicitado). Se o casamento de vocês for na Igreja, vocês podem fazer um bolo com champanhe em casa só para a família depois. Ou cumprimentarem os convidados na saída da Igreja mesmo. E quanto ao sogro não convidar a família dele se não tiver festa, quem tem que convidar são vocês mesmos, os noivos. Tentem lembrar a ele que o mais importante no casamento é a cerimônia, não a festa.

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