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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Dois dedinhos sobre o "desafio" de manter uma casa em ordem

Minha vida foi muito diferente da maioria dos meus colegas de geração. Ao contrário deles, minha mãe foi dona-de-casa durante a maior parte da vida, sempre conciliando o cuidado doméstico a trabalhos que conseguia fazer em casa, mas em geral, sempre mãe primeiro, trabalhadora depois. Tivemos empregada doméstica por um curto período de tempo. Tão curto que quase nem me lembro como eram aqueles dias, e meu irmão e eu nunca ficamos com babás, ou em creches, antes de rumarmos para a tradicional pré-escola. 

Acompanhei de perto quando minha mãe limpava a casa, fazia compras, cozinhava, lavava e passava roupas. Meu pai, meu irmão e eu ajudávamos um pouco, mas nem de longe o tanto que minha mãe precisava ou merecia. 

Sempre a admirei pelo caminho de vida que escolheu. Poderia ter trabalhado, construído uma grande carreira - foi bem-sucedida em todos os empregos e empreendimentos nos quais se envolveu - mas quis colocar os filhos primeiro, e fez isso muito bem. 

Eu cresci e hoje, casada há pouco mais de um ano, tenho minha própria casa para cuidar. Meu marido e eu somos ambos estudantes ainda, o que significa que nossas vidas são movimentadas e o orçamento é curto. Para dar conta da louça, da limpeza, da roupa, é preciso muita cooperação. O volume de trabalho, contudo, não me surpreende como surpreende alguns de meus colegas recém-casados ou recém-saídos da casa dos pais.




Volta e meia vejo algum comentário nas redes sociais sobre o quanto é difícil organizar uma casa e manter tudo dentro do orçamento. Nessas horas, só rio. A vontade é comentar: "a empregada que papai pagava faz falta nessas horas, não é?"

Sabe o que também faz falta? Aprender desde pequena a lavar um banheiro, a comprar o que tiver de mais barato no mercado e ficar agradecida por ter comida em casa, a saber lidar com dinheiro curto e mês comprido, a lavar uma louça tarde da noite mesmo quando você está podre de cansada de trabalhar o dia inteiro, porque ninguém mais vai fazer por você. Cuidar de uma casa é difícil, mas não precisa tanto drama. Fora o ninho de conforto com a empregada da mamãe e o cartão de crédito do papai, existe o mundo real, e é melhor se acostumar logo. 

Sem falar nos lugares em que empregada doméstica não é tão comum quanto no Brasil. Aqui nos EUA, empregada e cozinheira é coisa de rico. E quando digo rico, digo podre de rico. Classe média nos EUA - que no Brasil seria considerada rica - não tem empregada. No máximo uma diarista pra dar uma força de vez em quando. 

E mesmo no Brasil, cada vez menos famílias estão contratando empregadas. O serviço está ficando caro, não é todo mundo que consegue bancar. Nessas horas agradeço por ter praticamente crescido limpando meu próprio banheiro. Agradeço por cada prato de comida econômico que aprendi com a minha mãe. Nessas horas, sinto pelos meus colegas que cresceram com empregada em casa, longe da realidade do que é manter uma casa limpa e uma geladeira cheia, não somente pelo dinheiro envolvido, mas pelo tempo e esforço gastos no processo. Esses colegas estão tendo um choque de realidade ao sair de casa, enquanto eu sai de casa com os olhos bem abertos, sabendo o que me esperava. Não quero dizer com isso que sou melhor do que ninguém, ou que o trabalho de casa não seja cansativo e, às vezes, frustrante. Tem poucas coisas que detesto mais do que tirar pó e lavar louça. Só o que quero dizer é que agradeço pelos pais que tenho e pela educação que me deram. Pretendo passá-la adiante. 

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